27 de março de 2011

poeminha pra Quintana

os meus poemas
não os trago de cabeça
eles vem assim
quando querem
quando anseiam
pelo chão de onde vieram

a terra natal dos poemas
cidade-menino
canta a cada retorno
faz festa
assim como a terra
quando chega a chuva

dessa comunhão
ganha muito o mundo
e bovinamente para o mesmo lado
tantos nem disconfiam
tais e tantas delícias

perderão, por exemplo
um poeminha nascendo
e o mundo como que entendendo
chora lá fora
chovendo de alegria

19 de março de 2011

tarta de felicidad con raspaduras de tristeza

necesitarás de fortaleza como molde
untea con paciencia fresca
y para la substancia
tome el otro
como un universo
y no juzgue todo
pues asi podes generar el
aparte
los preconceptos tambien son buenos fuera
pues ademas del aparte
tienen agrio gusto
y como contraparte
para equilibrar la masa
junte raspaduras de tristezas
ya bien encaradas y
sentidas
y no olvides jamás
de hacer lo que apetecer
pues el tiempo es un
ingrediente precioso
y no volvió ninguno
para hacer todo de nuevo

11 de março de 2011

alma

Um clima de bar esfumaçado
Um rock dos 70
Um destilado
Um escrito do esgoto
Contrapor a aparência
Que por baixo tudo é roto
Se preciso usar de paciência
Provar que certo é errado
Pisar direto no pescoço
Destronar a opulência
Olhe o mundo escravizado
De meu canto embriagado
Ironizar seu novo posto
Saber que em tudo há essência
Pro perfume o agradável
Pro amigo tê-lo ao lado
Pro monge a calma
Pro ser a alma
Quebrar sua vidraça
Esse seu vidro filmado
Encarar as suas traças
Sua sala enlameada
Ver de onde é comandado

10 de março de 2011

apologia do passado

O passado é parte do meu presente, habita aquele lugar onde também estão o sonho e a memória… lugar em que foi depositada a experiência de milhões de seres que me antecederam. 

Assim como um mago, ele me aparece em símbolos: a suástica não é uma invenção nazista, tampouco a estrela de seis pontas é privilégio judio,
me aparece nos ritos e ditos: escaldados sobreviventes de longas tradições, a orientar e alertar,
me vem numa saudade, expressão tão brasileira,

e pode ao mesmo tempo ser desalentador e cruel, ao contar as misérias, as grandezas e proezas do humano, ao lado de sua eterna dívida: 

demoramos para aprender com os erros.

4 de março de 2011

simples

linda poeta menina
poesia mulher
menina é a poesia
que faz assim
da gente
um dia simples
e do dia
um ente feliz


à poetinha
http://antitrouxas.blogspot.com

a primeira dúvida

O Cruzerio do Sul tá lá desde muito antes de ser chamado assim, SUL, esta parte de baixo do planeta. Ou de cima? Aliás, quando vamos para o norte subimos? E quando vamos para o sul descemos? A Europa fica ao centro e acima? Ah, os velhos mapas e as velhas intenções.

Bom, o Cruzeiro tá lá, justificando crenças, guiando mares, desenhando a noite, esse teto em que mergulham nossas mentes, infindável, indizíveis quânticos, ávidos seres filhos da dúvida.

A primeira dúvida desenharam. Chovia há meses, em verdade os meses ainda não haviam nascido, contavam luas e sóis.

Como não aparecia há muito, julgaram o Deus-sol em ira a mandar cobras de fogo e luz riscarem o céu, seguidos de orripilantes urros que vinham do ventre da terra fecundada de tanta água:

nas paredes de pedra os primerios homens daqui cifraram em barro a primeira dúvida.

Quando encontrada pela civilização pensaram os 'descobridores' terem chegado às Indias pelas costas, e em nome de outro Deus destelharam selvas, desviaram vias, desmembraram almas e corpos, desnominaram o já nominado:

desmentiram a história.

3 de março de 2011

pequenas revoluções

Ernesto é revolucionário e sua ideologia é marginal, expressa numa prática resoluta e por vezes cruel. Na cadência do rap desce a Grande Avenida num modelo 2011, voa o sinal que lhe vermelha, e lá depois do rio vai praticar seu ideário. Queima um beque enquanto o companheiro risca um espelho, abaixam o som, conferem os instrumentos, dão a ordem:

- É um assalto!!!

O comparsa assume o outro veículo, não matarão, dia sagrado, aniverssário da mãe de Ernesto.

Em nome da luta de classes, um perdeu um bem e ficou com o ônus e com a vida, talvez repense o lugar e como vive; os outros dois vão esbanjar talvez numa orgia, o saqueio do dia.

2 de março de 2011

de onde vem as canções de um povo-novo

Amamos as metáforas, arredondamos sílabas e comemos às vezes vogais às vezes consoantes, temos fome, nossa língua dança – enquanto ao lado da mesa – uma negra samba, ou soul, que de tanta lambada no couro por lá cantou blues os céus Mississipis.

Pendurou, por estas bandas Guaranis, os sapatos ao pescoço e botou Brasil afora aos lados por baixo por dentro a língua lusitana pra se encontrar à dança maldita, Kaya, tambor nagô, cocar o côco, jongar o jongo, lusi-sambar.

E barracões e sertões celebram a grandeza de estarem no aumentativo e no plural, que até o tempo se segura, só pra ser um pouco épico.